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O CENTENÁRIO DE UM MITO!
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JOHN WAYNE
Sua história contada por seus filmes e seus personagens
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“Até parece!”
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Esta era a resposta que invariavelmente Ethan Edwards, o personagem de John Wayne em Rastros de Ódio (The Searchers, EUA, 1956), dava aos seus interlocutores, principalmente aqueles que o desafiavam por alguma razão. Ethan era um lobo solitário, uma espécie de “herói” errante que nunca se fixara em lugar algum, nunca se relacionara mais solidamente com pessoa alguma; por único e exclusivo medo de perdê-las. Ethan foi o personagem mais bem acabado de John Wayne, Ethan representa tudo aquilo que Wayne procurou a vida toda representar nas telas. Dizem que John Ford quando viu a preleção do filme, deu um soco na mesa e esbravejou: -“Este filho de uma mãe sabe representar!” – Era lógico que o “velho” John Wayne sabia representar, se não sabia na juventude, ele tivera bons mestres, e entre eles o próprio John Ford, e aprendera. Um crítico americano resume a atuação na tela de John Wayne da seguinte forma: “John Wayne pode não ser um grande ator como Henry Fonda ou James Stewart, por exemplo; mas Wayne tem carisma e basta a sua presença para que uma cena, por mais corriqueira e banal que seja, ganhe importância e passe a ser vista com mais interesse”. Sem dúvidas! John Wayne, sinônimo da masculinidade americana, não precisava muito para ser tudo, para ser o máximo. E sua importância para o povo americano era tanta, que em 1970, num referendum popular, foi considerado o segundo homem mais importante da História Americana, ficando atrás apenas de Abraham Lincoln. Mas nem sempre foi assim.
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Décadas de 10 e 20.
O jogador de futebol e o aspirante a ator.

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A história é longa, mas nós vamos tentar resumir. Tudo começou no dia 26 de Maio de 1907, há exatos 100 anos atrás. Nascera neste dia o filho de Clyde e Mary Morrison, em Winterset, Iowa, Estados Unidos, quando então recebeu o nome de Marion Michael Morrison. Quando ainda era pequeno John Wayne recebeu o apelido de Duke, isto por causa do seu cachorrinho, um terrier airdale, que também se chamava Duke (é o que muitas fontes afirmam), dizem que ambos eram inseparáveis. As pessoas passaram a se referir a Marion como o Pequeno Duke, mais tarde apenas Duke, e o apelido com o tempo passou a fazer parte de sua vida. Ninguém mais o conhecia por Marion, mas Duke. E foi com este apelido que John passou a ser conhecido na universidade, foi por este “nome” que John recebia as instruções do técnico de sua equipe de futebol. O jovem Duke jogava futebol americano na Universidade do Sul da Califórnia. Foi nesta época também, que um famoso artista de cinema, Tom Mix, grande fã de futebol americano, conheceu o jovem Duke e o convidou para trabalhar no cinema. E Duke, que era também fã de Tom Mix, aceitou o convite e foi trabalhar como faz-tudo nos estúdios da Fox. E lá conheceu muita gente importante do cinema, inclusive John Ford! Estreou no cinema no filme Brown of Harvard, EUA, 1926, de Jack Conway, onde faria um pequeno papel de um jogador de futebol americano, mas o seu nome não foi creditado no filme. Em 1926 trabalharia em mais dois filmes: Bardelys the Magnificent, onde faria o papel de um guarda, e The Great K & A Train Robbery, como extra, não creditado. No ano seguinte trabalharia em mais dois filmes; um como extra não creditado e no outro faria novamente um pequeno papel de um jogador de futebol americano. Em 1928 trabalhou em mais quatro filmes, e em 1929 em cinco filmes; sempre em pequenos papéis e extras, não creditados.
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Década de 30.

A primeira grande chance e o nascimento de um mito.

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O ano de 1930 começou e parecia que tudo continuaria no mesmo, fazer todo tipo de serviço para o estúdio e atuar em pequenos papéis quando requisitado. Chegou a trabalhar em quatro filmes neste ano, sempre em pequenos papéis e sem crédito; quando então o rumo de sua história seria mudado pela conversa de dois mestres da Fox. O grande Raoul Walsh perguntou a John Ford se ele conhecia alguém para lhe indicar para o papel principal do filme que pretendia fazer, o tal filme era nada mais nada menos do que A Grande Jornada (The Big Train, EUA, 1930). O carismático diretor disse-lhe que o jovem Duke poderia fazer o papel. Walsh olhou para o jovem alto que caminhava pelo estúdio e gostou dele. Mas quando ouviu o nome Marion Michael Morrison disse que aquilo não era nome de herói. -"Você tem cara de Wayne" (isto porque ele acabara de ler um livro sobre o general Anthony Wayne) - disse ao Duke, e acrescentou John e assim nasceu o mito, assim nasceu a lenda chamada John Wayne. Mas com o fracasso comercial do filme (que hoje é considerado um clássico), John Wayne, se não voltou a trabalhar como extra e a fazer pequenos papéis, viu a sua carreira encaminhar-se para os chamados filmes B. A partir de 1931 até 1938, trabalharia em muitos filmes, sendo que a grande maioria seria o protagonista. Um grande passo para quem apenas trabalhava como extra ou fazia pequenos papéis. Mas a sua carreira não deslanchou como esperava, no entanto, nunca mais voltou a ser o faz-tudo da Fox. Muito embora o grandalhão Duke nunca rejeitasse nenhum tipo de serviço. Em 1933 casou-se com Josephine Alicia Saenz e tiveram quatro filhos: Michael, Patrick, Toni e Melinda. Duke e Josephine ficariam casados até 25 de Dezembro de 1945, quando então se divorciariam. Os filmes de algum destaque desta época são: Coração de Aço (Blue Steel, EUA, 1934), Fronteira da Lei (The Trail Beyond, EUA, 1934) e Jornada para o Oeste (Born to the West, EUA, 1937). Quando parecia que o grandalhão Duke continuaria a ser apenas o protagonista preferido dos diretores de filmes B, eis que novamente, quase dez anos depois de sua participação no filme de Raoul Walsh, surge John Ford em sua vida. Ford o convida para estrelar o seu novo filme, um faroeste. Até aí nada demais. Porém o filme era No tempo das Diligências (Stagecoach, EUA, 1939), um faroeste totalmente diferente de todos os outros que Duke já havia trabalhado. Não era um filme apenas para o entretenimento das pessoas, principalmente dos homens; era uma espécie de drama desenvolvido durante a ação do filme, em que o ponto básico discutido era o preconceito e como os personagens lidariam com a questão. John Wayne faria o papel de Ringo Kid e trabalharia ao lado de gente como Claire Trevor, Andy Devine, John Carradine, Thomas Mitchell, Tim Holt e Tom Tyler. O filme mudaria a vida, tanto de John Wayne como também do diretor John Ford. Um clássico absoluto do gênero e de toda a história do cinema. Neste mesmo ano John Wayne trabalharia em mais quatro filmes, porém nenhum se compararia ao filme de Ford.
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Década de 40.
Os mestres John Ford e Howard Hawks.
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A década de 40 começou e a carreira de Wayne voltou ao "normal", isto é, trabalhar em filmes B. Muito embora, Duke já aprendera escolher melhor os papéis e os filmes em que atuaria. De 1940 até 1947 trabalharia em 25 filmes, alguns deles muito bons; além de contracenar, cada vez mais, com artistas famosos, e também de trabalhar com diretores de gabarito. Deixara de fazer apenas faroeste para trabalhar em dramas, filmes de guerras, etc. Porém, parecia que o seu destino era mesmo ser um sujeito que fizesse a diferença neste gênero tão americano, quanto tão americano era John Wayne. Neste período (40-47) fatos importantes marcam a sua vida. O seu divórcio em 1945 com Josephine e o seu casamento um ano depois com Esperanza Baur. Os filmes de destaque nesta época são: A Indomável (The Spoilers, EUA, 1942), Dakota (Dakota, EUA, 1945) e O Anjo e o Bandido (Angel and the Badman, EUA, 1947). Este último, um excelente filme de faroeste, e um dos melhores de Wayne. Apesar deste período não ter sido de todo mau para Wayne, o ano de 1948 lhe esperava de braços abertos e lhe reservava as mais gratas surpresas de sua vida até esta época. Novamente surgiu em sua vida o seu amigo John Ford e convidou-o para trabalhar em seu novo filme, um faroeste, é claro! John Wayne iria trabalhar ao lado do grande Henry Fonda, além de gente como Shirley Temple e Pedro Armendariz. O filme era Sangue de Herói (Fort Apache, EUA, 1948), o primeiro filme da famosa trilogia de Ford sobre a Cavalaria Americana. Um clássico inquestionável que deu a carreira de John Wayne um status que ainda ela não tinha. Logo em seguida, um outro grande diretor e também um especialista em filmes de faroeste, Howard Hawks, convida-o para estrelar o seu novo filme; simplesmente, Rio Vermelho (Red River, EUA, 1948), um dos cinco melhores filmes sobre faroeste de todos os tempos. Neste filme John Wayne já começa a demonstrar a sua maturidade como ator, tendo uma de suas melhores atuações até então. Trabalhou ao lado de Montgomery Clift, Joanne Dru e Walter Brennan. O tenso relacionamento entre Thomas Dunson (Wayne) e seu filho adotivo Matt (Clift), e Tess Millay (Dru), que seria como pimenta nesta relação; acompanhado de perto por Nadine (Brennan) o amigo e "pai" de todos, é o que determina todo o desenvolvimento do filme. Imperdível. No mesmo ano, Wayne faz mais um filme com Ford, O Céu mandou alguém (Three Godfather, EUA, 1948), quando atuaria ao lado de Harry Carey Jr. e Pedro Armendariz. Um bom filme, mas nada comparado a Sangue de Herói, e muito menos a Rio Vermelho. Também atua No Rastro da Bruxa Vermelha (Wake of the Witch, EUA, 1948), um filme sobre tal capitão Ralls (Wayne), um caçador de tesouros e comandante de uma embarcação e suas aventuras nos mares do sul. Um bom filme. O ano de 1949 viria para confirmar que a carreira de John Wayne tomava um rumo bem diferente daquela da década passada. Foi convocado por John Ford para estrelar seu segundo filme sobre a trilogia da Cavalaria Americana, Legião dos Invencíveis (She Wore a Yellow Ribbon, EUA, 1949), onde atuaria ao lado de Joanne Dru, John Agar, Ben Johnson, Victor MacLaglen, Harry Carey Jr., Mildred Natwick, George O'Brien, Arthur Shields e Harry Woods. Uma obra-prima no qual John Wayne ratifica seu carisma frente às câmeras e sua capacidade como ator numa grande atuação. Trabalha também no clássico de guerra Iwo Jima: O Portal da Glória (Sands of Iwo Jima, EUA, 1949), onde John Wayne faz o papel do Sargento John M. Stryker, um homem difícil com uma missão ainda mais difícil: transformar um pelotão de recrutas despreparados em uma poderosa máquina de combate. De quebra ainda trabalha num bom filme de faroeste, ação e romance de George Waggner, O Lutador de Kentuck (The Fighting kentuckian, EUA, 1949); onde atua ao lado de Vera Ralston, Philip Dorn, Oliver Hardy e Marie Windsor.
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Década de 50.
A afirmação como ator.
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A década de 50 não poderia ter começado melhor para Wayne; logo de cara encabeça o elenco do terceiro filme da trilogia de John Ford sobre a Cavalaria Americana. O filme era Rio Grande (Rio Grande, EUA, 1950), que fecha a trilogia com chave de ouro. Se não é o melhor filme da série (e não é!), pelo menos encerra a questão tratando um assunto muito caro a John Ford, o preconceito, e como os personagens lidam com os problemas ao longo da história. Mas, especificamente para John Wayne, além, lógico, o de estrelar o filme, foi de trabalhar ao lado de Maureen O'Hara; sua amiga e grande parceira no cinema. Porém, Wayne neste ano faria apenas este filme; voltaria a atuar somente no ano seguinte quando faria dois filmes de guerra: Horizonte de Glórias (Flying Leathernecks, EUA, 1951) e Águas Traiçoeiras (Operation Pacific, EUA, 1951). Mas, era o ano de 1952 que o sucesso havia marcado um encontro com Wayne, e vinha pelas mãos de seu amigo John Ford (novamente!) e ao lado de sua amiga Maureen O'Hara; era o maravilhoso Depois do Vendaval (The Quiet Man, EUA, 1952), filme que conta a história de Sean Thornton (John Wayne) que após matar acidentalmente um adversário numa luta de boxe, jurou nunca mais lutar. E, ao retornar para sua cidade natal na Irlanda, encontra a felicidade quando se apaixona pela impetuosa Mary Kate (Maureen O´Hara). Embora fortemente tentado a vestir novamente as luvas para enfrentar o irmão de Mary, o maior briguento da cidade, ele está determinado a nunca mais usar seus punhos. Mas quando Mary Kate e Sean se casam, o destino irá guiar o boxeador a novamente usar de sua força e habilidade. John Wayne merecia ter ganho o Oscar por sua espetacular atuação neste filme. No ano seguinte, Wayne trabalha em três filmes; mas o de maior destaque é Caminhos Ásperos (Hondo, EUA, 1953), onde é Hondo Lane, o cavaleiro que se torna o protetor da voluntariosa Angie Lowe, assim como um pai para o filho dela, Johnny. Angie, decidida a esperar o retorno de seu marido, recusa-se a deixar sua propriedade, apesar do crescente perigo da iminente guerra entre as tribos nativas. E ela se vê cada vez mais impressionada pelo estranho, Hondo - um homem endurecido pela experiência, mas ainda capaz de sentir compaixão, ternura e amor. Um filme que não tem o merecido valor reconhecido pela crítica, infelizmente. No ano seguinte ocorre dois fatos muito importante na vida de Wayne: um é o seu divórcio com Esperanza Baur e outro é o seu casamento com Pilar que duraria o resto de sua vida. John Wayne que tivera com Josephine quatro filhos (Michael, Patrick, Toni e Melinda), viria a ter com Pilar mais três (Aissa, Ethan e Marisa), com Esperanza Baur não tivera nenhum filho. Não é a tôa que neste ano trabalha em apenas um filme: Um Fio de Esperança (The High and the Mighty, EUA, 1954), um bom filme de aventura, mas o que de mais importante tem foi o fato dele ter trabalhado com o grande William A. Wellman e ao lado de sua companheira de atuação no distante ano de 1939, no filme No Tempo das Diligências, Claire Trevor. Em 1955 John Wayne trabalha em dois filmes de ação, guerra e aventura, Mares Violentos (The Sea Chase, EUA, 1955) do excelente diretor John Farrow e Rota Sangrenta (Bloody Alley, EUA, 1955) de William A. Wellman. Dois bons filmes, onde Wayne mais uma vez demonstrava que ele não era somente o cowboy durão que todos estavam acostumados, era durão também como comandante de um barco ou um oficial da marinha. O ano de 1956 começa e logo em fevereiro Wayne estrela um filme atípico em sua carreira, Sangue de Bárbaros (The Conqueror, EUA, 1956), o qual Wayne faz o papel de Genghis Khan. No entanto, dizem que este filme lhe trouxe a morte, já que afirmam que John Wayne contraiu o mal que o matou (câncer) durante as filmagens deste filme. Já que a locação foi numa região desértica que teria servido para realização de testes atômicos anos antes. Mas para compensar, e para a eternidade (pelo menos do mundo cinematográfico), em março, Wayne pelas mãos Fordianas, estrela o seu maior personagem no cinema, o papel do herói atormentado e errante Ethan Edwards. O filme era Rastros de Ódio ( The Searches, EUA, 1956). -"Uma porta que se fecha para um filme e guarda uma página do gênero e do próprio cinema". - Diria um crítico. E com toda razão! Rastros de Ódio não é apenas o melhor filme de John Ford e de John Wayne, é um dos maiores filmes de toda a história do cinema. É sempre incluído em todo tipo de lista como um dos melhores de todos os tempos em todos os gêneros. Poucos filmes têm a densidade psicológica deste drama das pradarias que narra a busca obstinada de Ethan, um homem duro e insensível, por vingança. Poucos personagens são a imagem da solidão e da obstinação que este herói fordiano passa a quem se disponha a acompanhar a sua odisséia. John Wayne está perfeito no papel e pela sua atuação, não dá para entender como não ganhou o Oscar de melhor Ator.(?) Em 1957 John Wayne trabalha em três filmes, mas nenhum deles com grande destaque. Embora, melhores que muitos filmes atuados por outros atores. Em 1958 em dois, mas também sem grande destaque. O peso de Rastros de Ódio era grande; talvez Wayne compreendesse isto e por esta razão não trabalhou em nenhum grande filme nos dois anos seguintes, principalmente filmes de faroeste. Mas dizem os entendidos que "picada de cobra se cura com o soro da própria cobra", então no ano de 1959 ressurge em sua vida novamente os dois Grandes Mestres do Cinema e, em especial, do faroeste, para tirá-lo da maldição da saga de Ethan Edwards; John Ford e Howard Hawks. O primeiro leva-o para estrelar Marcha de Heróis (The Horse Soldiers, EUA, 1959), baseado num incidente verdadeiro ocorrido na Guerra Civil Americana, o filme conta a história de uma companhia da União que entram pelas linhas inimigas nos estados sulistas para destruir um forte rebelde na Estação Newton. O segundo convoca Wayne para ser o xerife John T. Chance, um personagem durão que não se curva pelas ameaças de seus inimigos. Chance prende um pistoleiro e tem de enfrentar a ira de seu bando. Só conta com um auxiliar bêbado e em crise existencial, um velho, uma mulher e um jovem inexperiente e temerário. O filme é Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, EUA, 1959). Um clássico do gênero. Dizem que este filme foi a resposta de Hawks ao clássico de Fred Zinneman, Matar ou Morrer (High Noon, EUA, 1952), pois Hawks não se conformava em ver um xerife pedir ajuda a civis para resolver uma questão sua. E desta forma termina a vitoriosa década de 50 para o ator John Wayne.
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Década de 60.
O reconhecimento e a premiação.
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A década de 60 começou com Wayne fazendo experiências em sua carreira; produziu, dirigiu e estrelou o filme O Álamo (The Alamo, EUA, 1960), que narra um dos acontecimentos mais marcantes da história americana: a heróica e sofrível missão de um grupo de 185 homens que resistiram a um exército de 7.000 homens e deram suas vidas em defesa de seus ideais - "Um relato impressionante como a própria realidade!" (Life Magazine). Segundo o crítico Leonard Maltin, "O Álamo é um espetáculo verdadeiramente inesquecível". No mesmo ano trabalha em Fúria no Alaska (North to Alaska, EUA, 1960), um divertido faroeste-comédia onde Wayne demonstra sua veia humorística. No ano seguinte trabalha em apenas um filme, Os Comancheros (The Comancheros, EUA, 1961), onde além de estrelar o filme é diretor assistente do grande diretor Michael Curtiz. Um faroeste menor na filmografia de Wayne. Porém, o filme é sempre lembrado por ser o último filme dirigido pelo fenomenal diretor de Casablanca (Casablanca, EUA, 1942). Mas o ano de 1962, este sim, estava reservado para Wayne estrelar com grandes atuações em filmes que marcariam época. Até parecia que o "velho Duke" de tempo em tempo parava para tomar um fôlego e logo em seguida mostrava as suas garras. Começou com o fenomenal O Homem que Matou o Facínora ( The Man Who Shot Liberty Valance, EUA, 1962), do também fenomenal diretor John Ford e ao lado do estupendo James Stewart e gente como Vera Miles, Lee Marvin, Edmond O'Brien, Andy Devine, Ken Murray, John Carradine, Jeanette Nolan e John Qualen. Um filme fabuloso onde Ford deixa de lado o heroísmo natural em suas histórias para nos passar uma fábula de teor psicológico que contrasta a violência e a sensibilidade dos personagens. Um clássico indiscutível. John Wayne não fica nada a dever com sua atuação trabalhando ao lado do grande ator James Stewart. Os dois e mais Lee Marvin dão um show no filme. Em seguida John Wayne trabalha na deliciosa comédia-aventura do também fenomenal diretor Howard Hawks, Hatari! (Hatari, EUA, 1962), são duas horas e meia de pura ação onde o filme nos leva para sequências de perigosas capturas de girafas, zebras, rinocerontes, antílopes e macacos, tudo rodado com a mais alta competência filmográfica da época do “puro cinema” quando as cenas eram rodadas em locações naturais, neste caso as fabulosas e deslumbrantes paisagens da Tanzânia. Mas o filme não era só aventura, tinha o relacionamento humano, principalmente o romance entre os personagens de Wayne e Elsa Martinelli. Qualquer um que comece a assistir ao filme, vai até o seu final! Em seguida trabalha em duas grandes produções em que seus produtores queriam realçar o valor americano na história; a saber a conquista do oeste americano e a Segunda Grande Guerra Mundial. O Mais Longo dos Dias (The Longest Day, EUA, 1962), relata um dos episódios mais marcantes da Segunda Guerra Mundial: em 6 de junho de 1944, a Invasão Alida marcou o início do fim da dominação nazista na Europa. O ataque envolveu 3.000.000 homens, 11.000 aeronaves e 4.000 navios, que compunham a maior armada que o mundo já viu. O Mais Longo dos Dias é uma reconstituição vivida, momento a momento, deste evento histórico. Apresentando um elenco de astros internacionais, e narrado do ponto de vista de ambos os lados, é um olhar fascinante que presencia os enormes preparativos, os erros e acontecimentos inesperados que determinaram o resultado de uma das maiores batalhas da História. Em seguida trabalha no filme A Conquista do Oeste (How the West Was Won, EUA, 1962), que retrata não em nível mundial, mas nacional, a saga dos colonizadores americanos, contada através da história de três gerações da família Prescott, descrevendo os perigos e aventuras vividos pelos pioneiros desbravadores do Oeste americano. Em 1963 John Wayne trabalha em dois filmes, um de John Ford e outro de Andrew V. McLaglen. Destaque desta vez é o filme de McLaglen, não porque o filme do mestre Ford fosse sofrível, mas porque Quando o Homem é Homem (McLintock, EUA, 1963), era o filme de John Wayne favorito de minha mãe e de meu pai. O filme é uma mistura de comédia e romance disfarçado de faroeste. Não é um dos meus favoritos, mas é um bom filme. Em 1964 Wayne faz outra de suas experiências, trabalha num filme ambientado num circo. É na verdade, uma grandiosa e emocionante história de vida no circo, onde retrata uma fascinante história de tristeza e felicidade, camaradagem e bravura. Nunca o cinema apresentara tamanhas acrobacias numa produção tão completa. Cheia de ação e belos shows circenses, com diligências, cavalos, índios e tiroteios. Direção do competente diretor Henry Hathaway. No ano seguinte John Wayne trabalha em três filmes, o destaque fica para Os Filhos de Katie Elder (The Sons of Katie Elder, EUA, 1965), também do diretor Henry Hathaway. Um bom filme com uma história que tem um tema duplo: não só é uma história masculina, como também um drama da maternal influência de Katie Elder, comoventemente retratada do começo até o final. No ano de 1966 Wayne trabalha em dois filmes, o destaque é Eldorado (El Dorado, EUA, 1966) do mestre Howard Hawks. Geralmente remake não costumam sair a altura do original, Eldorado é uma excessão. O filme é uma regravação de um grande clássico de Hawks do final da década de 50, Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, EUA, 1959), com o mesmo John Wayne como protagonista, mas com outros coadjuvantes. Naquele John Wayne atuou ao lado de Dean Martin e Angie Dickinson; em Eldorado ao lado de Robert Mitchum e Charlene Holt. Em Eldorado John Wayne é o amigo do xerife beberrão e em Rio Bravo John Wayne é o próprio xerife. No mais, fica o fato de que o primeiro é um clássico indiscutível e o segundo um ótimo filme de faroeste. Em 1967 John Wayne trabalha em apenas um filme, Gigantes em Luta (The War Wagon, EUA, 1967), dirigido pelo excelente diretor Burt Kennedy. O filme retrata as andanças de Taw Jackson (John Wayne) e Lomax (Kirk Douglas), que juntos planejam roubar um carregamento de ouro que é transportado por uma carroça, considerada um verdadeiro carro forte. Após passarem por situações difíceis e perigosas, conseguem finalmente se apossar do ouro. Porém, uma desagradável surpresa os aguarda no momento da divisão do produto do roubo. Ação e aventura com algumas cenas engraçadas, um bom espetáculo deste autêntico estilo americano que é o faroeste. No ano seguinte Wayne trabalha em dois filmes, o destaque é Os Boina Verdes (The Green Berets, EUA, 1968), onde protagoniza e é co-diretor junto com Ray Kelogg, nesta interessante visão sobre a Guerra do Vietnam. O filme faz uma espécie de depoimento vigoroso sobre a natureza do dever e da coragem, no meio das incertezas políticas duma guerra. Um bom filme de guerra onde Wayne está muito a vontade num papel muito característico e apropriado para sua pessoa, o de comandar grupos especiais de combatentes numa batalha. Mas o melhor da década para o já "velho" Duke, estava reservado para o seu final. Finalmente em 1969 a tal Academia iria reconhecer o talento de John Wayne para atuar. Dizem alguns maldosos, que ganhou o prêmio pelo conjunto de sua obra; se for assim, deveriam ter dado dois prêmios: um pelo conjunto da obra (merecidíssimo) e outro por sua estupenda atuação em The Grit. E isto para não falar da "dívida" que a tal Academia ficou-lhe devendo que nem todo o reconhecimento do mundo irá saldar; vocês se lembram de Rio Vermelho, Depois do Vendaval, Rastros de Ódio e O Homem Que Matou o Facínora? Bem, mas o que importa é que o "velho' Duke não morreu sem antes terem reconhecido (pelo menos um pouco) a sua competência. O filme todos conhecem, é Bravura Indômita (The Grit, EUA, 1969), com direção de Henry Hathaway, onde Wayne encarna o personagem Rooster Cogburn, um xerife caolho e beberrão, que é contratado por uma garota para que ele capture o assasino do pai dela. John Wayne precisou ficar velho, gordo e barrigudo para que um trabalho seu fosse reconhecido; mas valeu a pena. O "velho" Duke dá um show neste filme, onde ele não precisava mais se preocupar em ser o mocinho correto do filme, apenas fazer o que mais gostava e em cima de um cavalo. No mesmo ano John Wayne atuaria no filme Jamais Foram Vencidos (The Undefeated, EUA, 1969), de Andrew V. McLaglen. Um bom filme de faroeste, mas nada comparado a The Grit. Fim de uma longa e preciosa década para John Wayne.
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Década de 70.
A luta contra a doença e o canto do cisne.
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E finalmente estamos no último capítulo desta nossa história. Estamos no início de uma década a qual o nosso herói não veria o final. Mas antes de dar seu adeus final, Duke tem ainda o que falar, ou atuar! - O ano de 1970 começa com um faroeste igual a tantos outros, e que segundo a maioria dos críticos não merece maior destaque; a não ser, lógico, a presença de John Wayne no elenco. O filme é Chisum, uma lenda americana (Chisum, EUA, 1970), de Andrew V. McLaglen. Porém, quase no final de 1970, ressurge na vida de John Wayne um dos dois maiores diretores de faroeste de todos os tempos para fazer a diferença a favor de Duke. O diretor é o mestre Howard Hawks, que o convida para estrelar aquele que seria o último filme que Hawks dirigiria; Rio Lobo (Rio Lobo, EUA, 1970). Um clássico inolvidável. Um filme recheado de ação; no início ocorre um espectacular roubo de um comboio de pagamento da União por guerrilheiros Confederados. O comandante do comboio (Wayne) prende os chefes inimigos (Jorge Rivero, Chris Mitchum), mas os três homens tornam-se mais tarde amigos, quando a guerra acaba. Juntos, eles perseguem os traidores da União responsáveis por uma série de assaltos Confederados a comboios, uma missão que culmina num enorme tiroteio. Rio Lobo foi a quinta colaboração ao longo de um período de 22 anos entre John Wayne e o lendário realizador Howard Hawk. Este filme encerra também a trilogia de Hawks (não se sabe se proposital ou não!) sobre "rios"; a saber: Rio Vermelho, Rio Bravo e Rio Lobo. Todos faroeste, todos com John Wayne e todos clássicos. Em 1971 John Wayne faz apenas um filme; para variar, um faroeste. O filme é Jake, o grandão (Big Jake, EUA, 1971), dirigido por George Sherman, onde John Wayne é co-diretor. John Wayne é Jake McCandles, um xerife turrão que reencontra a mulher (Maureen O´Hara) há mais de 18 anos. Mas ele volta para casa apenas quando seu neto é raptado por um sórdido bando de foras-da-lei. Enquanto a lei roda em velhos automóveis, Jake cavalga com um ajudante índio (Bruce Cabot) e uma caixa de dinheiro, ainda que pagar o resgate não seja bem o que Jake planeja para executar a velha e boa justiça do oeste. Temperado com humor e tiros de primeira, esta é uma versão dos últimos dias do oeste bravo. Para Wayne, este foi um filme em família. Seu filho mais velho produziu o filme e dois outros, Patrick e John Ethan, trabalharam nele. Jake Grandão também marcou a segunda vez que Richard Boone e John Wayne atuaram juntos e a quinta vez que Wayne contracenou com Maureen O´Hara. Mas o melhor mesmo viria no ano seguinte, quando atuaria em uma espécie de fábula do velho oeste. Um delicioso e desprentesioso filme sobre um velho cowboy e onze pequenos aprendizes da profissão. É Os Cowboys (The Cowboys, EUA, 1972), do bom diretor Mark Rydell. Quase todas as resenhas sobre o filme diz mais ou menos o seguinte: John Wayne lutou contra índios, domou cavalos selvagens, lutou guerras e pilotou aviões. Mas foi em Os Cowboys que ele pôde demonstrar todo seu talento em uma performance arrebatadora. Desta vez, ele é um vaqueiro experiente que abandonado por seus ajudantes, contrata um grupo de 11 garotos para ajudá-lo a levar seu gado em uma jornada emocionante que irá mudar a vida de todos. Este é um filme em que John Wayne trabalha a vontade, porque a esta altura de sua vida, ele não se preocupa mais com o que irão falar dele. Por isso ele acaba tendo uma atuação memorável, mas que a maioria dos críticos parece teimar em não enxergar, uma pena. É só assistir e conferir para ficar então sabendo o porque que John Wayne foi um dos maiores astros que o cinema já viu. Em 1973 John Wayne atua em dois filmes, que também para variar, são faroestes. O destaque é para Chacais do Oeste (The Train Robbers, EUA, 1972), do bom diretor Burt Kennedy. O filme na verdade é um interessante conto do escritor/diretor Burt Kennedy um especialista em faroestes com toques cômicos. Aventuras, amizades e personagens bem interessantes; vale a pena conferir. No ano seguinte, agora já com a doença bem avançada, Wayne ainda assim encontra tempo para fazer o que gosta; trabalha com o grande diretor John Sturges, um razoável filme de policial. É McQ - Um detetive acima da lei (McQ, EUA, 1974). No ano seguinte trabalha em dois filmes; um é outro policial também razoável, A morte segue seus Passos (Brannigan, EUA, 1975); o outro é o velho e bom faroeste, dirigido por Stuart Miller. Justiceiro Implacável (Rooster Cogburn, EUA, 1975), onde o personagem de Wayne do filme que lhe deu o Oscar em 1969 ressurge em uma nova aventura. Porém o filme lembra mais o famoso filme do grande diretor John Huston, Uma Aventura na África, do que a continuação de The Grit. A história do filme é simples: pistoleiro ajuda a filha de um pastor a encontrar os homens que mataram seu pai. O que vale no filme são as presenças de John Wayne e Katherine Hepburn juntos, onde talento e carisma se fundem. Bom filme. E por fim, chegamos ao ano de 1976. Ano em que o "velho" Duke iria se despedir das telas e dar adeus a este mundo. A despedida veio com o seu canto do cisne, O Último Pistoleiro (The Shootist, EUA, 1976), dirigido por um especialista no gênero (no caso um faroeste - não poderia ser outro!), Don Siegel, contando com a companhia de Lauren Bacall, o grande James Stewart, Ron Howard e um elenco de apoio de primeira. O filme é uma espécie de fábula que parece contar a própria vida de John Wayne: sofrendo de uma doença terminal (o câncer), John Bernard Books (John Wayne), o último dos lendários pistoleiros, regressa pacificamente a Carson City, para receber tratamentos do seu velho amigo, o Dr. Hostetler (James Stewart). Sabendo bem que os seus dias estão contados, o perturbado homem procura paz e tranquilidade numa pensão dirigida por uma viúva (Lauren Bacall) e pelo seu filho (Ron Howard). No entanto, o destino de Books não é morrer em paz, quando se vê envolvido numa última e violenta batalha. E desta forma o personagem durão de Wayne nas telas, demonstra como um homem deve morrer, lutando. O adeus a este mundo veio no dia 11 de Junho de 1979 em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos; a causa foi câncer de estômago e pulmão. Neste momento não se fala mais nada. Apenas encerra-se um ciclo, e como dizia um famoso locutor esportivo: -"Fecha-se as cortinas e termina o espetáculo!"..
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John Ford e John Wayne.
A lenda e o mito.
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O lendário diretor John Ford, além de grande amigo de John Wayne e seu mestre na arte de atuar, foi o diretor que mais vezes o dirigiu, além, lógico, de ter sido o diretor de maior importância em sua carreira. Foram 22 filmes; destacamos alguns deles que irão ficar para sempre na memória de todos que gostem de um bom cinema. São eles: No tempo das Diligências (Stagecoach, EUA, 1939), Sangue de Herói (Fort Apache, EUA, 1948), Legião dos Invencíveis (She Wore a Yellow Ribbon, EUA, 1949), Rio Grande (Rio Grande, EUA, 1950), Depois do Vendaval (The Quiet Man, EUA, 1952), Rastros de Ódio (The Searches, EUA, 1956), Marcha de Heróis (The Horse Soldiers, EUA, 1959) e O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, EUA, 1962). Um saldo positivo de oito grandes filmes e uma amizade para a eternidade...
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Marion Michael Morrison
(26 de Maio de 1907 - 11 de Junho de 1979)
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John Wayne
(26 de Maio de 1907 - 26 de Maio de 2007)
Cem Anos de História

Em sua lápide foi escrito:
"Feo, fuorte y feroz".